CARLOS
PRESMAN
Garçom, traga o bife com
carne viu?!
É preciso humanizar a medicina!
Perfeito, lógica pura. Isto se escuta e se lê nos ambientes que se preocupam com
a saúde das pessoas. Se pensarmos um pouco é tão absurdo, mas falar do óbvio
deve ter suas razões.
Porque humanizar a medicina? Antes
era humana e hoje não? Se não é humana, que médicos somos, veterinários? Se não
é humana, quem são os pacientes, animais?
A dificuldade encontra-se nos
médicos, há somente um meio de entender o que quer o paciente: a fala. A
linguagem nos distingue fato que nos converte na única espécie que reflete
sobre o que o outro está pensando. Então, cada palavra padece de polissemia ou
vários significados.
Voltemos ao bife. Para uns será um
suculento pedaço de carne, para outros um tapa e para uns pouquinhos bi-fe
define a aqueles que têm duas religiões. Apenas carne. Imagine agora as
inúmeras palavras que compõem o ato médico. É preciso humanizar a medicina!
A anamnese o como interrogar,
tornou-se o calcanhar de Aquiles dos médicos. Não é difícil perguntar, não é
difícil escutar. Cada paciente tem uma linguagem e cada médico também. O paciente se transforma então, numa pessoa
única que não aparece em nenhum livro por mais espesso e atualizado que seja.
Porém, não podemos pedir uma tomografia computadorizada da preocupação, um
eletroencefalograma da tristeza, um ecocardiograma da dor, uma análise do
abandono. O paciente é sempre um “animal” doente, vivendo num humano mais
doente ainda. Aqui estamos
médicos e pacientes, aprisionados em consultas que não passam de sete minutos,
obrigados a realizar vinte estudos complementares por dia, a praticar dez
cirurgias por semana. Não parece ser o mesmo? Fabricar uma série de salsichas,
consertar uma pilha de sapatos, cortar uma quantidade de bifes, tratar vários
pacientes. É preciso humanizar a medicina!
Na maioria dos casos, a relação
médico-paciente se rompe não por falta de conhecimentos científicos, nem por
desajustes profissionais, mas por que ambos perdem a confiança. Viva a medicina
alternativa! Lá se vão os pacientes que tratamos como animais. Por que será,
não?
Aqui estamos, médicos relutantes em
perder a dignidade e pacientes necessitados de atenção. De um lado... "os
grandes prestadores", clínicas e sanatórios! Do outro lado "os
grandes financiadores”, os pré-pagos e planos sociais! Você e eu sabemos os que
estão nos cobrando nesta briga. Além do mais, o que recebem muitos médicos e
pacientes não dá nem para carne!