terça-feira, 21 de novembro de 2017

Desde que você partiu o tempo nunca mais se transformou.
Não houve mais tantas risadas nas festas
e nem fizeram mais a fogueira de São João.

Desde que você partiu o tempo nunca mais se transformou.
O que aconteceu foi ouvir um monte de promessas
E nascer uma nuvem no meu coração.

Depois que você partiu o tempo nunca mais se transformou.
Fez-se o mesmo e tudo se acabou. E nada se cumpriu.
E a espera é te amar sem te ter — você não volta —
E a saudade é tudo ser igual.

PS: poema que escrevi há alguns anos em homenagem a minha amada avó Irinéa que hoje completaria mais um ano de vida.

De Carne Somos



CARLOS PRESMAN 

Garçom, traga o bife com carne viu?!

            É preciso humanizar a medicina! Perfeito, lógica pura. Isto se escuta e se lê nos ambientes que se preocupam com a saúde das pessoas. Se pensarmos um pouco é tão absurdo, mas falar do óbvio deve ter suas razões.
            Porque humanizar a medicina? Antes era humana e hoje não? Se não é humana, que médicos somos, veterinários? Se não é humana, quem são os pacientes, animais?
            A dificuldade encontra-se nos médicos, há somente um meio de entender o que quer o paciente: a fala. A linguagem nos distingue fato que nos converte na única espécie que reflete sobre o que o outro está pensando. Então, cada palavra padece de polissemia ou vários significados.
            Voltemos ao bife. Para uns será um suculento pedaço de carne, para outros um tapa e para uns pouquinhos bi-fe define a aqueles que têm duas religiões. Apenas carne. Imagine agora as inúmeras palavras que compõem o ato médico. É preciso humanizar a medicina!
            A anamnese o como interrogar, tornou-se o calcanhar de Aquiles dos médicos. Não é difícil perguntar, não é difícil escutar. Cada paciente tem uma linguagem e cada médico também. O paciente se transforma então, numa pessoa única que não aparece em nenhum livro por mais espesso e atualizado que seja. Porém, não podemos pedir uma tomografia computadorizada da preocupação, um eletroencefalograma da tristeza, um ecocardiograma da dor, uma análise do abandono. O paciente é sempre um “animal” doente, vivendo num humano mais doente ainda.             Aqui estamos médicos e pacientes, aprisionados em consultas que não passam de sete minutos, obrigados a realizar vinte estudos complementares por dia, a praticar dez cirurgias por semana. Não parece ser o mesmo? Fabricar uma série de salsichas, consertar uma pilha de sapatos, cortar uma quantidade de bifes, tratar vários pacientes. É preciso humanizar a medicina!
            Na maioria dos casos, a relação médico-paciente se rompe não por falta de conhecimentos científicos, nem por desajustes profissionais, mas por que ambos perdem a confiança. Viva a medicina alternativa! Lá se vão os pacientes que tratamos como animais. Por que será, não?
            Aqui estamos, médicos relutantes em perder a dignidade e pacientes necessitados de atenção. De um lado... "os grandes prestadores", clínicas e sanatórios! Do outro lado "os grandes financiadores”, os pré-pagos e planos sociais! Você e eu sabemos os que estão nos cobrando nesta briga. Além do mais, o que recebem muitos médicos e pacientes não dá nem para carne!