sábado, 30 de maio de 2020

Está muito difícil. Tenho chorado quase diariamente e perdi o desejo de fazer todas as coisas que adorava fazer, como cozinhar, ler, conversar com pessoas queridas. 

Há mais ou menos 1 ano atrás minha mãe foi diagnosticada com depressão. De lá pra cá quanto sofrimento e quanto julgamento. No começo tudo parecia que iria se controlar. Mas o quadro foi se agravando pra depressão psicótica. Foram 98 dias internada direto. Passamos Natal, meu aniversário, Ano Novo, enterro de familiares, tudo longe. Fiz um diário destes 98 dias, com todos os acontecimentos e sentimentos diários, os mais tristes, até então, em toda a minha vida. 

Briguei com pessoas que eu imaginava serem diferentes, mas que me julgaram sem nenhuma empatia, me acusaram de omissa, mesmo fazendo tudo o que estava ao meu alcance, além do meu adoecimento, que foi inevitável ao vê-la nessa situação. Mas ninguém quer saber disso. As pessoas só querem julgar e falar o que vem na cabeça. As pessoas são egoístas, elas são más. 

É muito fácil não ter envolvimento emocional e ficar dizendo: “você precisa reagir”, “você tem que querer”. Isso é cruel! Muito cruel! Isso só aumenta a sensação de impotência de qualquer pessoa deprimida. Ou, no meu caso, me deixa ainda mais ansiosa. 

Às vezes as pessoas usam a palavra “depressão” pra qualquer chateação e isso tem confundido muita gente. É preciso saber o seu significado. Uma pessoa depressiva fica num estado de profunda tristeza e desesperança. Não é falta de ânimo, não é falta de boa vontade. 

Conviver com uma  pessoa depressiva requer muita paciência. Paciência que eu não tive em vários momentos em que surtei e só conseguia chorar e querer fugir. Gritei! Questionei a vida! Quis desaparecer! Mas isso não importa para as pessoas que só querem julgar e não fazem nada de útil em prol de quem está precisando. 

Houve um tempo em que minha mãe dizia que eu havia morrido. De certa forma, morri. Aquela filha tão alegre e carinhosa já não encontrava sua mãe tão disposta e solícita. Nós morremos e nos perdermos em algum lugar que já não conseguimos retornar. 

Por favor, não me digam pra reagir. Não me peçam pra ser forte. Não me diga que eu preciso me distrair. Respeitem o meu momento. O meu silêncio. O meu direito de estar triste com tudo isso.