segunda-feira, 27 de maio de 2013

"A arte de ler ou como resistir à adversidade", de Michèle Petit


          Ando cada vez mais interessada nos estudos pragmáticos sobre a linguagem, que compreende a fala como ação. Nas últimas semanas tive oportunidade de ler uma excelente obra que se chama A arte de ler ou como resistir à adversidade. O livro é de uma antropóloga francesa, Michèle Petit, que estuda o uso da leitura em "contextos de crise". Parece-me que a leitura também é uma forma de ação e por isso relaciona-se a essa perspectiva de estudo que eu me interesso cada vez mais.

            Não poderia deixar de recomendar essa leitura aqui no blog, e por isso, resolvi fazer um resuminho da obra pra ver se vocês se animam :)

            Durante toda a obra a autora tece reflexões a respeito da atuação da leitura nesses "contextos de crise" que são as situações de violência, guerra, recessões econômicas e outras.  Um ponto que me chamou atenção foi o fato de que, segundo a autora, a leitura contribuiria para a reconstrução de si mesmo, e consequentemente, promoveria modificações psíquicas saudáveis ao leitor.

            Mais adiante a autora citará os "mediadores de leitura". Estes seriam profissionais empáticos que, com o auxílio da literatura, abririam um leque de reflexões ao seu interlocutor. E estes tornar-se-iam agentes transformadores da sua própria vida. Ou seja, através do exercício da leitura a interioridade do ser humano é tocada, modificada e lhe é permitido recuperar um sentimento de continuidade. Segundo as palavras da autora “para além desses contextos dramáticos, a leitura como o jogo, é uma maneira de se reafirmar, dia após dia” (p. 91). Petit irá recorrer a vários exemplos nos quais a narrativa em situação adversa serviu para transformar a visão de mundo do interlocutor/leitor.

 “Não importa o meio onde vivemos e a cultura que nos viu nascer, precisamos de mediações, de representações, de figurações simbólicas para sair do caos, seja ele exterior ou interior. O que está em nós precisa primeiro procurar uma expressão exterior, e por vias indiretas, para que possamos nos instalar em nós mesmos” (p. 115).

            Se considerarmos que nossas vidas são sempre tecidas por fragmentos, relatos, narrativas, histórias cheias de aventura, conseguiremos perceber a importância de se ter alguém que incentive a leitura, ou mesmo a prática da fala, o ato de narrar. Talvez nós pudéssemos dizer que a prática do falar/ouvir/ler desenvolve uma espécie de "trabalho terapêutico". 

            Michèle Petit também tratará dos espaços coletivos de leitura e ressaltará a importância da escolha de textos a serem utilizados nas dinâmicas. Segundo a autora, essas experiências literárias seriam responsáveis pela construção de uma sensibilidade - inerente ao ser  humano.

            Muitas outras questões são abordadas na obra. De qualquer forma, ficam aqui algumas delas que, a meu ver, são fundamentais. Termino este singelo texto com uma citação da própria autora, que sintetiza muito bem as ideias propostas por ela: “ler, apropriar-se dos livros, é reencontrar o eco longínquo de uma voz amada na infância, o apoio de sua presença sensível para atravessar a noite, enfrentar a escuridão e a separação” (p. 65).




quarta-feira, 15 de maio de 2013

"Minhas Tardes com Margueritte"


                Que filme delicado! Essa semana queria escrever algo "leve"... Afinal, essa semana tem o aniversário da Juju - minha prima mais que amada - e ela é uma dessas pessoas leves e delicadas que encantam qualquer pessoa. Bom, assisti esse filme francês "Minhas Tardes com Margueritte", dirigido por Jean Becker e fiquei encantada com Gérard Depardieu e Gisèle Casadesus atuando de forma tão simples e sensível, como a Júlia.
                O filme conta a história de Germain. Ele é obrigado a conviver com a intolerância das pessoas que não o compreendem e nem se importam com o fato dele ter tido problemas de aprendizado na infância. Além disso sofre em casa e é ridicularizado o tempo todo, principalmente pela mãe. Desse modo, fecha-se para o mundo e assim torna-se um adulto "difícil", mas sensível e bom de coração. Num belo dia o cinquentão resolve comer seu lanche numa praça cheia de pombinhos, e lá conhece Margueritte. Essa doce senhora de mais ou menos 90 anos é uma leitora assídua, e então pergunta se Germain quer ouvir o que ela lê. Ele aceita e passa a frequentar a praça diariamente. Aos poucos aquela velhinha traz um novo mundo para Germain; suas palavras vão criando um novo universo - cheio de amor e sabedoria. Germain ganha um dicionário de Margueritte, mas insiste em não acreditar no seu potencial. A velhinha aos poucos vai perdendo a visão e então seu amigo fiel enfrenta o desafio de "correr atrás do prejuízo" e passa a ler histórias para a sua companheira.
                Não vou contar o final porque isso não se faz, né?!rs. Em todo caso, achei incrível a forma que a história é contada. Fico pensando sempre em como as palavras possuem essa "força transformadora". Veja! Os livros, as palavras trouxeram Germain para um novo lugar! Acho que todo mundo devia passar tardes com uma Margueritte, não é?! Difícil? Acho que vou procurá-la num livro ;)
                Um filme super recomendado!