segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Parece que você começou a viagem de volta

Hoje eu ouvi sua voz. Consegui lembrar do quão doce é a sua maneira de falar e te ouvi. Você ainda está um pouco confusa, mas o seu amor permanece o mesmo. 

Você perguntou o que eu comi, me pediu pra te chamar na câmera e nos vimos antes de dormir. Você não imagina o quanto meu coração ficou quentinho ao te ver ali, com um sorrisinho leve e me desejando boa noite. 

Mãe, é tão bom sentir que você está pegando esse trem de volta. Agora parece que cada dia você pousará numa estação até chegar aqui de novo. Quando esse dia chegar eu quero estar pronta pra te receber. Quero fazer tudo o que você gosta de comer e quero te levar pra passarmos um final de semana gostoso em algum lugar. 

Ainda me faltam palavras pra descrever a minha felicidade neste momento. Só consigo sentir. Mãe, sinto você mais pertinho de mim. 

domingo, 13 de outubro de 2019

Dias (in)úteis

Eu ando tão triste. Nunca imaginei que fosse torcer tanto para os finais de semana passarem rápido. Ontem foi um daqueles dias em que me senti totalmente impotente e fraca. 

Passei o dia com um nó na garganta. Minha mãe chorando e eu tentando engolir o meu. Fomos nas Clínicas, sem nenhum sucesso. Fomos ao pronto socorro mais uma vez, nada adiantou. 

Pedi perdão a ela por não conseguir ser mais forte. Contei a ela que preciso encontrá-la em algum lugar. 

É triste, mas desejei que os dias todos fossem úteis e eu não tivesse tempo pra passar por momentos como os de ontem. 

Pela manhã o meu pai dizia ao telefone “você vem mesmo?! Hoje a barra está muito pesada”. Eu fui. Quis que ela sentisse minhas mãos acariciando seus cabelos e meus muitos beijinhos em sua bochecha. 

Quando estávamos nos despedindo, depois de algumas horas angustiantes, meu pai disse: “filha, somos todos tijolos. Não importa se você está na ponta, no meio ou no final, todos são importantes na sustentação. Fica tranquila” 

Abracei o meu pai me desculpando por não ter a mesma força que ele. Em meio às lágrimas também havia muito amor. 

Durante a noite acordei muitas vezes. Dormi muito mal e desejei tanto que um milagre acontecesse. Fiquei sonhando acordada com os momentos que poderíamos estar vivendo se minha mãe tão sensível, amorosa e alegre tivesse com a gente de novo. 

Sinto sua falta. 

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Quanto tempo mais?

Hoje foi um daqueles dias muito tristes. São aqueles dias em que a gente precisa sorrir para as pessoas, trabalhar normalmente, mas no fundo a gente tá chorando e morrendo um pouquinho. 

Minha mãe não melhora. Está catatônica e com movimentos bem prejudicados. Suas mãos estão sempre geladas e eu sinto meu cotação partir cada vez mais a cada visita que eu faço a ela. 

Não me sinto bem. Tudo parece desabar. Justo agora que eu estava buscando me conhecer melhor, que eu estava começando a gostar mais de mim, tudo isso acontece. Quanto desejo há em mim de fugir, de esquecer de tudo, de crer que é um pesadelo e logo eu vou acordar. 

Todos os dias eu choro e cada vez mais tem doído sentir essa angústia da espera. A espera do fim que nunca chega. Quanto tempo mais eu aguentarei?! Quanto tempo mais eu vou viver sem minha mãe de volta? 

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Onde eu encontro aquela força?

Mãe, o que aconteceu com essa sua cabecinha sempre tão forte? O que acontece que agora você só chora? 

Ainda me lembro de como você foi forte quando a vovó morreu. Eu ainda era criança, mas já imaginava o seu mundo acabando sem a vovó. Então você me surpreendeu. Lembro de um dia em que você sentou na cama pra conversar comigo. 

Eu estava chorando com saudades da vovó. Você me abraçou, colocou minha cabeça no seu colo, me fez cafuné e disse que as coisas eram assim. Que a minha tristeza ia passar e eu ficaria bem. Porque agora eu não consigo fazer o mesmo com você? 

Mãe, minha mãe querida, quanto desejo há em mim de te ver sorrir. Queria voltar no tempo em que a gente dançava em casa entre uma atividade e outra. No tempo em que a gente ria das piadas que você lembrava. Do tempo em que eu fazia cartões de dia das mães e vivia dizendo que te amo. E continuo a te amar, sempre. 

domingo, 22 de setembro de 2019

Ainda te espero. Volta logo.

Sinto minha energia escoar pelo ralo, assim como as águas que caem do chuveiro, passa pelo corpo inteiro e vão embora. A alegria não habita mais em nós. O sorriso dela foi embora. Tudo se torna uma grande tensão, um tormento sem fim. 

Dói não saber qual foi o gatilho que desencadeou toda essa situação. Dói estar ao lado de alguém que você não consegue reconhecer mais. Dói sentir que toda aquela fortaleza hoje depende tanto de nós. 

Dói não conseguir ser a fortaleza que talvez ela precise. Tudo dói. Meu corpo dói. Meu coração dói. Meu peito parece sangrar. Minha garganta anda fechada. Sinto minhas mãos atadas. 

Sinto todos nós adoecidos. Ao mesmo tempo, todos precisamos ser fortes para ajudá-la a sair desse poço que parece não minar mais água potável. 

Em meio a todas estas questões a vida continua. As contas de casa continuam chegando, é preciso cozinhar, trabalhar e tomar conta dos afazeres. Todos os dias o despertador toca às 5h da manhã e eu ainda me pergunto como tenho conseguido sair da cama. 
Às vezes fico me perguntando quando é que retomaremos a “normalidade”. Será que poderei comemorar meu aniversário? Será que no Natal ela estará linda e feliz? Será que irá desejar fazer aqueles vários pratos para a nossa ceia? 
Quando chego em sua casa, abro a porta e dou uma olhada para ver como ela está. Desejo ver aquele brilho nos olhos, mas encontro apenas uma paisagem fosca. 
Hoje ela me pediu pra fazer suas unhas. Fiz com muito amor e cuidado. Desejara que ela me desse uma bronca. Que ela dissesse que eu ando cortando demais o cabelo, que eu não tenho que fazer mais tatuagem, que eu precisava comer mais. Ela não diz nada. Ela só me olha. Eu só olho ela e não consigo dizer mais nada. 
Eu te quero tanto de volta, mãe. Sinto falta do amor que só você sabe me dar. 


terça-feira, 3 de setembro de 2019

Ainda sobre os ensinamentos da vovó

Então eu comecei a pensar que a gente também precisa aprender a amar. Mas eu era muito pequena pra aprender isso quando minha avó tentava me ensinar. 

Hoje, perto dos 30, fico refletindo sobre este processo de amadurecer e aprender que é interminável. A gente acha que faz aniversário e vira adulto, que tem um namoradinho e já sabe dos relacionamentos humanos. A gente acha que estes aprendizados surgem embrulhadinhos pra presente, que eles chegam e pronto. Agora eu tenho isso e está tudo certo. 

Eu sempre fui essa pessoa regrada com as coisas, cheia de planos e expectativas. O que isso me rendeu?! Muitas frustrações e eu ainda não aprendi muito com isso, infelizmente. 

Desde sexta-feira também tenho pensado sobre uma outra relação importante: a do “saber” e “fazer”. A pessoa diz: “se você sabe o que te faz mal, se você sabe o que faz de errado por quê não muda?”. 

Aí é que tá: o amor está, quase todo tempo, ligado ao “sentir”. A ideia do amor puro, sincero, quase oposto a razão faz com que a gente nunca pense em aprender a amar. O que a gente “faz” pra aprender a amar?

Durante quase toda a minha vida o amor era esse sentir, sentir em demasia. Amar significava encher de beijinhos aqueles que amamos, mas especialmente oferecer o que há de melhor em nós. E, muitas vezes, entre essas demonstrações surgiram alguns desafetos. O amor também sufoca. O amor também cobra. 

Quando a gente percebe que não sabe amar, dói. A gente nota que as pessoas agem diferente de nós e, por crer que estamos dando o nosso melhor, deixamos de acreditar que o outro nos ama também. A consequência disso tudo é diminuir o amor do outro. Desrespeitamos esse amor e quando nos damos conta dói mais. 

Amar, então, seria compreender essas diferenças e respeitar o outro como ele é, assim como também queremos ser compreendidos e aceitos pelo que somos, mas sem exageros. “Água demais mata a planta”. 

Ai, que difícil é o amor. Difícil são quase todas as coisas que decidimos “fazer” na vida. No entanto, tudo é mais difícil no começo. É como aprender a dirigir. No início você não coordena bem os pés, precisa olhar em qual marcha está pra prosseguir, esquece de dar seta porque precisa dar muitos comandos de uma vez só. Acho que no amor também é um pouco assim: aprender a admirar uma flor, o colorido da natureza, os animais, agradecer a beleza oferecida pelo sol cada vez que ele nasce e se põe também pode ser amor. 

Quando notamos que o amor é muito mais do que frases bonitas, beijos e abraços, começamos a praticar o amor. Cada uma das coisas que nos faz bem e que nos arrepia com a beleza, é a prática do amor. 

O amor, portanto, não é este sentir em exagero, muito menos é admirar o desconhecido. Nós podemos escolher a quem oferecer o nosso amor.  Acima disso, podemos escolher receber o amor do outro com leveza, numa troca saudável que surge naturalmente. 

No final das contas, o amor existe pra nos fazer bem. O amor está aí pra nós levar por caminhos de descobertas, sensações, respeito, compreensão e autoconhecimento. 

Só pra constar: ainda não aprendi a amar, mas dei o primeiro passo reconhecendo que é preciso aprender.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Das coisas que eu ouvi pequena e aprendo agora

Quando eu era pequena lembro-me de diversas vezes nas quais a minha avó dizia: “você ama demais, Thaysa. Não pode ser assim”. Eu tinha os meus 8 ou 9 anos. Não entendia muito bem o que ela dizia, porque afinal, se o amor é bom, amar demais não era um problema...

Amando demais eu não queria passear e distanciar-se da minha mãe. Amando demais eu recusava ir no McDonalds com os meus primos e não queria passar férias na casa das minhas tias. 
Os anos passaram e eu nunca queria ficar longe da minha mãe. Ela era uma espécie de fada madrinha, a pessoa que nunca me deixava sem apoio, sem um sorriso, sem um alento. 

Os anos se passaram e em 2012, pela primeira vez eu embarcava numa viagem que duraria meses. Por amar demais e não saber lidar com esse amor eu fui num táxi chorando copiosamente por mais de 70km até o aeroporto. Depois segui triste, apenas, pois já não havia mais lágrimas pra cair. 

Mesmo assim eu não achava um problema amar demais. Porque na minha cabeça amar demais era se doar mais, era agradar mais, era zelar mais. E pra mim as coisas boas não precisavam de medida.

Mais um tempo se passou e quando completou 20 anos da morte da minha avó eu comecei a pensar nas coisas que ela dizia. As coisas começaram a fazer sentido e eu pensei: o que é bom também precisa de medida. O doce é bom, mas em excesso nos adoece. 

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Volta, mãe.

Eu não imaginava que seria tão difícil. Eu não imaginava que seria possível sentir a perda de uma pessoa mesmo tendo-a próximo de nós. 
Frases sem sentido. Olhares perdidos no abismo do tempo que corre. 

As semanas vão passando e eu não a encontro. Suas mãos permanecem frias, seus olhos fundos, sua roupa anda larga, você não tem a voz doce e não nota se a gente deixou de comer. Por vezes você acha que eu morri. E de certa forma você está certa, parte do meu corpo está adormecido, é como se estivesse morto mesmo. 

A vida é tão sem graça sem você, mãe. Volta pra gente! Lembra de quando a gente fazia chocolate juntas porque eu amo presentear as pessoas? Lembra quando você me ensinou a fazer meias de crochê? E quando você me ensinou a fazer brigadeiro? Lembra de quando você me ensinou a costurar e fazer as barras da minha calça? Quanta coisa ainda tenho pra aprender com você? Muitas. Volta pra nossa vida. 

Volta a me dar bronca porque eu estou sem blusa de frio. Volta a me chamar de “tiquinho da mamãe”. Volta a pedir pra eu falar baixo quando me empolgo contando uma história. Volta a me chamar pra ir no mercado com você. Volta a pedir minha opinião sobre a roupa que você quer vestir. Volta a dizer que sente saudades de mim. 

Volta, mãe. 

Por que mudar é tão difícil?

Tem dias que a gente muda, se sente mudado. Em seguida, somos pegos novamente pelo antigo eu. Mudar significa dar um salto no escuro, somos laçados no desconhecido. Não há o chão firme e o caminho que já conhecemos em todos os seus atalhos, falta certezas. 
Na mudança temos que nos despir. Ficamos nus e questionamos nossos valores, nossos princípios, nossas crenças. Temos que enxergar o que não é mais permitido. Temos que remexer as feridas. Temos que vestir uma nova roupa que ainda não tem a forma do nosso corpo e ainda não sabemos se ela cairá bem. Mudar é puro risco. 
Quando começamos a achar que estamos mudando começam as dificuldades. Tudo aquilo que era super importante pra nós passa a ser nada além de conservas culturais, idealizações, ilusões. 
Ao desejarmos mudar achamos que este “novo” será um comportamento duradouro, mas duradoura é essa bagagem que trouxemos e não conseguimos nos desfazer como uma limpeza pesada pós-obra, quando mandamos tudo o que não presta embora. 
Infelizmente a todo momento somos pegos pelo mesmo “modus operandi”. Ele não favorece e não tem urgência em mudar. A transição pode apresentar recaídas. Daí você percebe que voltou a estação inicial dessa viagem que parece nunca ter fim (e não deve ter mesmo!). 
O comportamento repetitivo para o bem ou para o mal ajuda a pensar sobre o que faz as pessoas permanecerem com suas respostas engessadas, acompanhadas de prazer e desprazer. Pensando de forma lógica, aquilo que causa prazer e/ou desprazer, também causa repetição. Pontos de satisfação causam repetição. O pior é que às vezes nos convencemos do que será bom pra nós, mas nossas vidas já tiveram momentos tão felizes com essa mesma postura que parece difícil sair dessa “zona de conforto” (embora não haja conforto algum!). 
Quando dizem que eu pareço ter um pensamento de criança eu penso: as crianças fazem isso. Crianças pedem toda hora para repetir de forma incansável uma atividade que lhes trouxe satisfação. Ouvir “eu te amo”, por exemplo, me faz muito feliz e eu penso que jamais haveria um esgotamento dessa sensação de prazer. No entanto, pra outrem, pode sufocar. 
As mudanças geram muita ansiedade. No ato de mudar existe um empecilho: mudar significa, primeiramente, analisar o comportamento atual, ou seja se autoconhecer. Se conhecer dói. Tocamos aonde dói, remexemos a ferida, nos mutilamos. 
Pensar sobre o comportamento é algo que aumenta ansiedade, a forma mais fácil de minimizá-la é simplesmente desviar o foco, interrompendo o pensamento. Daí voltamos a correr o risco de fazer mal a outra pessoa, vê-la chorar. E volta a doer na gente. Voltamos à estaca zero. 
Ao imaginar, por exemplo, uma situação de conflito onde a mudança de comportamento seria benéfica: um casal, cuja fonte de atrito é o desejo por parte da mulher de ter do companheiro contínuas manifestações de afeto, contra o desejo dele de poder “ser ele mesmo”. Diante disso surgem sentimentos de frustração e menos-valia entre ambos. 
Mas o que aconteceria se os protagonistas começassem a pensar na relação que tem com o outro, sobre seus comportamentos, sentimentos e suas consequências? Às vezes um lado já faz isso, mas e o outro que toda hora volta a estaca zero? 
Seria o momento de refletir o que lhe causa tanto bloqueio, porém mexer no lixo emocional gera prejuízos e maior ansiedade, e na maioria das vezes são eles que alimentam os conflitos no presente.
O que dificulta a mudança do comportamento não é falta de capacidade de pensar sobre os problemas, mas sim uma espécie de “armadilha” emocional que visa manter o indivíduo na zona de conforto, através da evitação dos pensamentos.
Sempre que pensar sobre algo gerar tensão, a primeira reação será combater este pensamento. Como isso geralmente dá certo compreende-se porque é tão comum as pessoas pensarem pouco sobre seus próprios comportamentos e tenham tanta dificuldade em modifica-los.
Olhar para si é complexo, demanda tomada de consciência e ação, por isso olhar para o lado e não entrar em contato consigo mesmo preserva o emocional de tensões e cobranças internas que incitam a mudança.
Há os que usam a renúncia como estratégia para lidar com a vida e logo percebem que escolheram ficar fora de seu próprio jogo, em vez de participar com entusiasmo. (Eu mesma vivo no mundo da lua, vivo fora do jogo e sinto-me culpada em reconhecer isso). 
Estar envolvido em um processo dinâmico de mudança contínua conduz ao enriquecimento pessoal, mas nem sempre temos força pra enriquecer. 
Pensar sobre o comportamento e efetuar as mudanças, mesmo que doloroso, tende a trazer a longo prazo mais benefícios, pois os conflitos já compreendidos e trabalhados tendem a exigir menos emocionalmente, disparando menos os mecanismos de ansiedade e aumentando a qualidade de vida. É nisso que devemos focar. No sorriso e no orgulho que podemos sentir e dar a quem amamos. 

Mas, respondendo a pergunta inicial: porque o ser humano é complexo. É difícil. E ele sente dor. 


domingo, 18 de agosto de 2019

No more tears

Os dias continuam difíceis. Minha cabeça não consegue atravessar o continente e nem desligar das coisas que andam acontecendo. 
Em alguns momentos abstraio de tudo e sorrio, mas em seguida me sinto culpada.

O peso das coisas está me sufocando. Chego a sentir o nó em minha garganta. Sinto o julgamento das pessoas e me dói a falta de compreensão. As pessoas julgam! As pessoas não querem se colocar no seu lugar. As pessoas maltratam e as pessoas simulam que te compreendem. 

Um mantra fica em minha cabeça: no more tears. 

domingo, 11 de agosto de 2019

Estar longe é muito triste. Estar longe e se sentir culpada é muito pior. As preocupações existem apesar de qualquer distância. As pessoas julgam. As pessoas ferem e nos fazem sentir o peso multiplicado através das suas atitudes. Não tem sido nada fácil. 

Passei anos de minha vida me dedicando a outras pessoas. Foram anos me privando de muitas coisas, muitas vontades e desejos. Então, depois de começar a compreender que eu tinha uma vida e precisava assumir a minha verdade, tem sido difícil. 

Sinto-me julgada. Sinto-me errada e culpada por pensar no meu próprio bem. Meu corpo dói. Meu sorriso pode aparecer, mas lá dentro do peito continua um nó. 

Queria ter o poder de resolver as coisas como eu sempre achei que pudesse. Cada dia é uma nova luta e, ao mesmo tempo, uma nova vitória. Tudo parece desabar. 

De um lado, vou me tornando mais mulher. De outro, tenho uma mãe internada em tratamento psiquiátrico. Minha vida é liberdade e prisão. É ninho e é gaiola. É dor. É solidão. É tanta falta de compreensão. É atenção em seus dois sentidos mais usuais na esfera da vida. 

sábado, 10 de agosto de 2019

Dor.


Mãe, tem sido muito difícil. Já não sei o que fazer ou dizer pra você. Estou longe. Me sinto culpada. Também estou adoecida. Sinto-me fraca. Tenho dores no corpo. Não durmo uma noite completa sem acordar e pensar em você.

Hoje você tentou se matar. Meu coração se partiu ao meio. Estou ferida. Não sei como lhe ajudar. Você está numa cama de hospital e eu posso imaginar sua tristeza. Eu queria me transportar e ficar em seu lugar. 

Por quê mais sofrimento?! A vida já não foi cruel o suficiente com você?! Está doendo muito. 
Mãe, volta pra mim! Volta a ser a minha mãe maravilhosa, alegre que me coloca pra cima. 


quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Coragem

Palavra forte que chega no momento em que tudo o que preciso é dela cravada em meu peito, sem cair ou titubear.Antigamente eu achava que ter coragem era o oposto de ter medo. Achava que quem tinha coragem não podia sentir medo. Mas eu estava completamente errada, pois no fundo o medo é uma grande força e, como diz meu pai, o medo é necessário pra estarmos atentos, não ultrapassarmos os limites.Notei que o medo de sofrer o que tenho visto minha mãe sofrer com a depressão me fez buscar ajuda e daí comecei as sessões de terapia para me conhecer melhor. O medo atuou como uma forma de coragem.Agora essa coragem me ajuda a enfrentar os medos paralisadores, aqueles que nos impedem de seguir. Este medo, sim, a gente deita fora. 



quarta-feira, 31 de julho de 2019

É como se a gente não soubesse pra que lado foi a vida...


Tem sido muito difícil e doloroso. Têm dias em que não consigo sair da cama nem mesmo no terceiro toque do despertador.
Tudo ficou mais cinzento, foi perdendo cor, foi esvaindo entre os dedos.

A depressão da minha mãe nos pegou de surpresa. Ela que sempre foi a nossa fortaleza, a pessoa que impulsiona tudo e a todos, de repente, não tem forças pra nada. De repente precisamos cavar um poço de paciência. 

Me vejo sem chão tendo que cuidar de mim, dar suporte pro meu pai, pro meu irmão. Choro. Eu choro muito. A lágrima me ajuda a aliviar o aperto no peito que cada dia tem um nó mais apertado. 

Tem dias em que não sei o que fazer. Nestes dias, escrevo. 

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Saindo do casulo

Faz pouco tempo que comecei a fazer terapia. Tudo começou depois da minha mãe apresentar um quadro de depressão pós menopausa muito muito severo. Ficamos assustados. Todo mundo esmoreceu e eu me vi uma pessoa sem paciência. Na verdade, me deparei com meus próprios defeitos, com a minha insegurança, com o meu apego ao domínio das coisas, com a minha mania de guardar os sentimentos mais profundos e o medo de falar sobre as emoções.

Entrei em desespero e não conseguia falar sobre nada do que acontecia. Nem comigo e nem com a minha mãe. Fui ao médico e ele me encaminhou pra psicóloga. Ela é terapeuta comportamental. Eu gosto, pois não me sinto em um monólogo. Na primeira consulta ela fazia a coleta de dados pra traçar meu histórico e eu ia descobrindo quantas questões preciso responder a mim mesma. Minha cabeça precisa de reflexões. O meu corpo precisa de mais amor. Eu preciso de mais ouvidos. Também preciso de mais voz.

Tudo ainda parece muito difícil. Tudo parece me desafiar. Sou a lagarta que precisa virar borboleta. Às vezes já me sinto borboleta, mas sem saber voar. Por quê tudo é tão difícil? 

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Ó borboleta, borboleta
Salta, salta
De coração em coração

E como a ponta de uma caneta,
Desenha tudo o que falta,
Para voltar a ser Verão.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Os afazeres me pedem pra ficar. Eu não obedeço. Saio com a mochila nas costas e algumas horas depois estamos percorrendo as ruelas que se apinham e se pintam de cinza, azul marinho e o vermelho que nos inebria. Estou cada dia mais apaixonada.
Entrei como se fosse uma camponesa que vem abrigada num manto leve. E lá embaixo do cobertor quentinho a gente conversa, vê filme e come chocolate. As angústias se escondem e eu sou atraída pela minha maior relíquia. Uma sensação única.
Passa quase uma semana e eu me sinto plena, satisfeitíssima, como os vitrais que nos abrem verdadeiras histórias para compreensões e entendimentos. Saio podendo dizer que fui só caminhar e ver as flores no chão, ler uns vidros, e que fiquei vidrada. Eu sei o que é o amor.
Os sonhos nossos eu faço
Os sonhos meus
Eu tenho.