quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Onde eu encontro aquela força?

Mãe, o que aconteceu com essa sua cabecinha sempre tão forte? O que acontece que agora você só chora? 

Ainda me lembro de como você foi forte quando a vovó morreu. Eu ainda era criança, mas já imaginava o seu mundo acabando sem a vovó. Então você me surpreendeu. Lembro de um dia em que você sentou na cama pra conversar comigo. 

Eu estava chorando com saudades da vovó. Você me abraçou, colocou minha cabeça no seu colo, me fez cafuné e disse que as coisas eram assim. Que a minha tristeza ia passar e eu ficaria bem. Porque agora eu não consigo fazer o mesmo com você? 

Mãe, minha mãe querida, quanto desejo há em mim de te ver sorrir. Queria voltar no tempo em que a gente dançava em casa entre uma atividade e outra. No tempo em que a gente ria das piadas que você lembrava. Do tempo em que eu fazia cartões de dia das mães e vivia dizendo que te amo. E continuo a te amar, sempre. 

domingo, 22 de setembro de 2019

Ainda te espero. Volta logo.

Sinto minha energia escoar pelo ralo, assim como as águas que caem do chuveiro, passa pelo corpo inteiro e vão embora. A alegria não habita mais em nós. O sorriso dela foi embora. Tudo se torna uma grande tensão, um tormento sem fim. 

Dói não saber qual foi o gatilho que desencadeou toda essa situação. Dói estar ao lado de alguém que você não consegue reconhecer mais. Dói sentir que toda aquela fortaleza hoje depende tanto de nós. 

Dói não conseguir ser a fortaleza que talvez ela precise. Tudo dói. Meu corpo dói. Meu coração dói. Meu peito parece sangrar. Minha garganta anda fechada. Sinto minhas mãos atadas. 

Sinto todos nós adoecidos. Ao mesmo tempo, todos precisamos ser fortes para ajudá-la a sair desse poço que parece não minar mais água potável. 

Em meio a todas estas questões a vida continua. As contas de casa continuam chegando, é preciso cozinhar, trabalhar e tomar conta dos afazeres. Todos os dias o despertador toca às 5h da manhã e eu ainda me pergunto como tenho conseguido sair da cama. 
Às vezes fico me perguntando quando é que retomaremos a “normalidade”. Será que poderei comemorar meu aniversário? Será que no Natal ela estará linda e feliz? Será que irá desejar fazer aqueles vários pratos para a nossa ceia? 
Quando chego em sua casa, abro a porta e dou uma olhada para ver como ela está. Desejo ver aquele brilho nos olhos, mas encontro apenas uma paisagem fosca. 
Hoje ela me pediu pra fazer suas unhas. Fiz com muito amor e cuidado. Desejara que ela me desse uma bronca. Que ela dissesse que eu ando cortando demais o cabelo, que eu não tenho que fazer mais tatuagem, que eu precisava comer mais. Ela não diz nada. Ela só me olha. Eu só olho ela e não consigo dizer mais nada. 
Eu te quero tanto de volta, mãe. Sinto falta do amor que só você sabe me dar. 


terça-feira, 3 de setembro de 2019

Ainda sobre os ensinamentos da vovó

Então eu comecei a pensar que a gente também precisa aprender a amar. Mas eu era muito pequena pra aprender isso quando minha avó tentava me ensinar. 

Hoje, perto dos 30, fico refletindo sobre este processo de amadurecer e aprender que é interminável. A gente acha que faz aniversário e vira adulto, que tem um namoradinho e já sabe dos relacionamentos humanos. A gente acha que estes aprendizados surgem embrulhadinhos pra presente, que eles chegam e pronto. Agora eu tenho isso e está tudo certo. 

Eu sempre fui essa pessoa regrada com as coisas, cheia de planos e expectativas. O que isso me rendeu?! Muitas frustrações e eu ainda não aprendi muito com isso, infelizmente. 

Desde sexta-feira também tenho pensado sobre uma outra relação importante: a do “saber” e “fazer”. A pessoa diz: “se você sabe o que te faz mal, se você sabe o que faz de errado por quê não muda?”. 

Aí é que tá: o amor está, quase todo tempo, ligado ao “sentir”. A ideia do amor puro, sincero, quase oposto a razão faz com que a gente nunca pense em aprender a amar. O que a gente “faz” pra aprender a amar?

Durante quase toda a minha vida o amor era esse sentir, sentir em demasia. Amar significava encher de beijinhos aqueles que amamos, mas especialmente oferecer o que há de melhor em nós. E, muitas vezes, entre essas demonstrações surgiram alguns desafetos. O amor também sufoca. O amor também cobra. 

Quando a gente percebe que não sabe amar, dói. A gente nota que as pessoas agem diferente de nós e, por crer que estamos dando o nosso melhor, deixamos de acreditar que o outro nos ama também. A consequência disso tudo é diminuir o amor do outro. Desrespeitamos esse amor e quando nos damos conta dói mais. 

Amar, então, seria compreender essas diferenças e respeitar o outro como ele é, assim como também queremos ser compreendidos e aceitos pelo que somos, mas sem exageros. “Água demais mata a planta”. 

Ai, que difícil é o amor. Difícil são quase todas as coisas que decidimos “fazer” na vida. No entanto, tudo é mais difícil no começo. É como aprender a dirigir. No início você não coordena bem os pés, precisa olhar em qual marcha está pra prosseguir, esquece de dar seta porque precisa dar muitos comandos de uma vez só. Acho que no amor também é um pouco assim: aprender a admirar uma flor, o colorido da natureza, os animais, agradecer a beleza oferecida pelo sol cada vez que ele nasce e se põe também pode ser amor. 

Quando notamos que o amor é muito mais do que frases bonitas, beijos e abraços, começamos a praticar o amor. Cada uma das coisas que nos faz bem e que nos arrepia com a beleza, é a prática do amor. 

O amor, portanto, não é este sentir em exagero, muito menos é admirar o desconhecido. Nós podemos escolher a quem oferecer o nosso amor.  Acima disso, podemos escolher receber o amor do outro com leveza, numa troca saudável que surge naturalmente. 

No final das contas, o amor existe pra nos fazer bem. O amor está aí pra nós levar por caminhos de descobertas, sensações, respeito, compreensão e autoconhecimento. 

Só pra constar: ainda não aprendi a amar, mas dei o primeiro passo reconhecendo que é preciso aprender.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Das coisas que eu ouvi pequena e aprendo agora

Quando eu era pequena lembro-me de diversas vezes nas quais a minha avó dizia: “você ama demais, Thaysa. Não pode ser assim”. Eu tinha os meus 8 ou 9 anos. Não entendia muito bem o que ela dizia, porque afinal, se o amor é bom, amar demais não era um problema...

Amando demais eu não queria passear e distanciar-se da minha mãe. Amando demais eu recusava ir no McDonalds com os meus primos e não queria passar férias na casa das minhas tias. 
Os anos passaram e eu nunca queria ficar longe da minha mãe. Ela era uma espécie de fada madrinha, a pessoa que nunca me deixava sem apoio, sem um sorriso, sem um alento. 

Os anos se passaram e em 2012, pela primeira vez eu embarcava numa viagem que duraria meses. Por amar demais e não saber lidar com esse amor eu fui num táxi chorando copiosamente por mais de 70km até o aeroporto. Depois segui triste, apenas, pois já não havia mais lágrimas pra cair. 

Mesmo assim eu não achava um problema amar demais. Porque na minha cabeça amar demais era se doar mais, era agradar mais, era zelar mais. E pra mim as coisas boas não precisavam de medida.

Mais um tempo se passou e quando completou 20 anos da morte da minha avó eu comecei a pensar nas coisas que ela dizia. As coisas começaram a fazer sentido e eu pensei: o que é bom também precisa de medida. O doce é bom, mas em excesso nos adoece.