“O Youcalt é meu pai, mas ele não gosta que eu chame
ele de pai. Diz que
somos o melhor bando de machos num raio de pelo menos oito
quilômetros. O
Youcalt é dos realistas, e por isso não diz que somos o melhor
bando do
universo nem o melhor bando num raio de oito mil quilômetros. Os
realistas são
as pessoas que acham que a realidade não é assim, como você pensa
que
é. Foi o Youcalt que me falou. A realidade é assim, e pronto. Sem chance.
‘É
preciso ser realista’ é a frase favorita dos realistas”. (Festa no Covil)
Festa no Covil, do escritor mexicano Juan Pablo Villalobos, adentra o cânone
da narcoliteratura em grande estilo.
A voz – fininha como de uma criança – que surge nas linhas deste livro, descreve a cruel e violenta realidade do tráfico de drogas no México
através da ótica do inteligentíssimo Tochtli. Vivendo como um príncipe isolado
do mundo real, o menino-narrador nos surpreende em vários sentidos! A narrativa
ingênua do menino – filho de um traficante – demonstra que seu mundo foi
construído através das conversas com os empregados do “palácio” ou pela
televisão. Seu passatempo é desvendar mistérios, colecionar chapéus, pesquisar
palavras difíceis, saber mais sobre samurais, reis, animais em extinção e outros assuntos.
Nesta árdua tarefa ele é auxiliado por um fracassado escritor que não mede as
palavras diante do seu amiguinho.
Tochtli
também deseja ganhar um hipopótamo anão da Libéria. E por mais surreal que
possa parecer, o pequeno garotinho pode conseguir um hipopótamo desse para completar
o seu pequeno zoológico que fica no “quintal” do seu “palácio”. Esse sonho
poderá ser realizado quando a família precisa abandonar o México por conta da perigosa
situação de seu pai – que o proíbe de lhe chamar de “pai”. Então, inicia-se o
safári para captura do tal hipopótamo. Numa viagem à África cheia de aventuras
e percalços revela-se um quadro cômico e assustador; o coração do crime para
além do bem e do mal.
“Festa no Covil concentra em suas poucas
páginas um panorama impactante e sem moralismos da violência do narcotráfico em
meio a outras violências, pelos olhos límpidos e pela voz surpreendente de uma
criança à beira do abismo de seu destino”.
Recomendo a leitura!