Eu sei que você e eu
Nunca fomos iguais.
E eu costumava olhar para as estrelas à noite
E queria saber de qual delas eu vim.
Porque eu pareço ser parte de um outro mundo
E eu nunca saberei do que ele é feito.
A não ser que você me construa uma ponte, construa-me uma ponte,
Construa-me uma ponte de amor.
(Mc Kean - poema de um autista retirado da monografia de Maria Lúcia Salazar Machado)
Nunca fomos iguais.
E eu costumava olhar para as estrelas à noite
E queria saber de qual delas eu vim.
Porque eu pareço ser parte de um outro mundo
E eu nunca saberei do que ele é feito.
A não ser que você me construa uma ponte, construa-me uma ponte,
Construa-me uma ponte de amor.
(Mc Kean - poema de um autista retirado da monografia de Maria Lúcia Salazar Machado)
Hoje li um texto interessantíssimo que trata do autismo - um distúrbio do desenvolvimento humano que, apesar dos muitos anos de estudo, ainda conserva divergências até mesmo científicas
-, o texto de Gustavo Serrate (jornalista e cineasta independente) conta um pouco da história de Carly Fleischmann. Divulgo esse texto na tentativa de que ele chegue ao máximo possível de pessoas, pois, me entristece perceber que seja pela diversidade de características ou pela falta de informação deste transtorno, muitas crianças, jovens autistas e suas famílias sofrem preconceito nos mais diversos grupos da sociedade. Que esse texto possa elucidar diversas questões.
"O autismo me prendeu dentro de um corpo que eu não posso controlar" - conheça a história de Carly Fleischmann, uma adolescente que aprendeu a controlar o autismo para se comunicar através de palavras escritas em um computador após 11 anos de enclausuramento dentro de si mesma, e assista também o video interativo "Carly's Café", no qual você poderá vivenciar alguns minutos da experiência de um autista por trás dos olhos de um.
Lê se na tela de um computador: "Meu nome é Carly Fleischmann e desde que me lembro, sou diagnosticada com autismo",a digitação é lenta, a idéia não é concluída sem algumas interrupções, é assim que Carly trava contato com o mundo.Carly é uma adolescente de Toronto, Canadá, e atravessou uma batalha na vida. Ajudada pelos pais, ela conseguiu superar a barreira máxima do isolamento humano.
“Quando dizem que sua filha tem um atraso mental e que, no máximo atingirá o desenvolvimento de uma criança de seis anos, é como se você levasse um chute no estômago", diz o pai de Carly. Ela tem uma irmã gêmea que se desenvolvia naturalmente, e aos dois anos, ficou claro que havia algo de errado. Ela estava imersa no oceano de dados sensoriais bombardeando seu cérebro constantemente. Apesar dos esforços dos pais, pagando profissionais, realizando tratamentos, ela continuava impossibilitada de se comunicar e de ter uma vida normal. O pai de Carly explica que ela não era capaz de andar, de sentar, e todos doutores recomendavam: "Você é o pai. Você deve fazer o que julgar necessário para esta criança".
Eram cerca de 3 ou 4 terapeutas trabalhando 46 horas por semana. Os terapeutas acreditavam que Carly fosse mentalmente retardada, portanto, sem esperanças de algum dia sair daquele estado. Amigos recomendavam que os pais parassem o tratamento, pois os custos eram muito altos. O pai de Carly, no entanto, acreditava que sua criança estava ali, perdida atrás daqueles olhos: "Eu não poderia desistir da minha filha".
Subitamente aos 11 anos algo marcante aconteceu. Ela caminhou até o computador, colocou as mãos sobre o teclado e digitou lentamente as letras: H U R T - e um pouco depois digitou - H E L P. Hurt, do inglês "Dor", e Help significa "Socorro". Carly nunca havia escrito nada na vida, nem muito menos foi ensinada, no entanto, foi capaz de silenciosamente assimilar conhecimento ao longo dos anos para se comunicar, usando a palavra pela primeira vez, em um momento de necessidade extrema. Em seguida, Carly correu do computador e vomitou no chão. Apesar do susto, ela estava bem. "Inicialmente nós não acreditamos. Conhecendo Carly por 10 anos, é claro que eu estaria cético", disse o pai.
Os terapeutas estavam ansiosos para ver provas e os pais incentivavam Carly ao máximo para que ela se comunicasse novamente. O comportamento histérico de Carly permanecia exatamente como antes e ela se recusava a digitar. Para força-la a digitar, impuseram a necessidade. Se ela quisesse algo, teria que digitar o pedido. Se ela quisesse ir a algum lugar, pegar algo, ou que dissessem algo, ela teria que digitar. Vários meses se passaram e ela percebeu que ao se comunicar, ela tinha poder sobre o ambiente. E as primeiras coisas que Carly disse aos terapeutas foi "Eu tenho autismo, mas isso não é quem eu sou. Gaste um tempo para me conhecer antes de me julgar".
A partir dai, como dizem os pais, Carly "encontrou sua voz" e abriu as portas de sua mente para o mundo. Ela começou a revelar alguns mistérios por trás do seu comportamento de balançar os braços violentamente, e de bater a cabeça nas coisas, ou de querer arrancar as roupas: "Se eu não fizer isso, parece que meu corpo vai explodir. Se eu pudesse parar eu pararia, mas não tem como desligar. Eu sei o que é certo e errado, mas é como se eu estivesse travando uma luta contra o meu cérebro". "Eu gostaria de ir a escola, como as outras crianças. Mas sem que me achassem estranha quando eu começasse a bater na mesa, ou gritar. Eu gostaria de algo que apagasse o fogo". Carly explica ainda que a sensação em seus braços é como se estivessem formigando, ou pegando fogo. Respondendo a uma das perguntas que fizeram a ela, sobre porquê às vezes ela tapa os ouvidos e tapa os olhos, ela explica que isso serve para ela bloquear a entrada de informações em seu cérebro. É como se ela não tivesse controle e tivesse que bloquear o exterior para não ficar sobrecarregada. Ela explica ainda que é muito difícil olhar para o rosto de uma pessoa. É como se tirasse milhares de fotos simultaneamente com os olhos, e é muita informação para processar. O cérebro de Carly não possui a capacidade de catalizar a quantidade imensa de informações para os sentidos, e consequentemente, ela não pode lidar com a quantidade excessiva de informação absorvida.
Segundo o pai de Carly, ela faz questão de dizer, que é uma criança normal, presa em um corpo que a impede de interagir normalmente com o mundo. O Pai de Carly teve a chance de finalmente conhecer a filha. A partir do momento em que ela começou a escrever, se abriu para o mundo. Carly hoje está no twitter e no facebook. Ela conversa com as pessoas e responde dúvidas sobre o autismo. Com ajuda do pai ela escreveu um livro chamado Carly's Voice (A voz de Carly). Entre os mais variados comentários que ela recebe sobre o livro, um crítico disse: "A história de Carly é um triunfo. O autismo falou e um novo dia nasceu".
Segue aqui o link do curta-metragem "Carly's Café", baseado em um trecho do livro de Carly.
http://carlyscafe.com/
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirThaysa, expresso aqui a minha admiração por essa sua valorosa iniciativa de divulgar, de maneira tão humana, as dificuldades de quem vivencia a situação do autismo; através da linda história dessa garota. É realmente muito importante levar ao maior numero de pessoas informações substanciais acerca de questões que são, infelizmente, muitas vezes norteadas pelo preconceito, no intuito de que a lucidez e o conhecimento guiem suas opiniões e seu olhar! Beijo querida! Lindo trabalho!!!
ResponderExcluirNossa! Muito interessante essa história!
ResponderExcluirA força de vontade e os sentimentos podem ultrapassar qualquer limites.
Adorei essa história Thaysa. Sensacional! Isso não mostra apenas a quebra de paradigma de uma garotinha, mas também como o nosso interior continuará sendo um mistério.
A vitória dessa garotinha conseguiu ainda mais fixar em minha mente, que não existem padrões em nosso entorno, não existem padrões para o nosso corpo e não existem padrões para os nossos sentimentos.
Além desse post ter me motivado bastante, ele conseguiu desvendar muitas perguntas dessa minha eterna mente curiosa e as vezes perturbada. rsrs!
Beijos,
Lucas Brasadinho
;)
Lucas,
Excluirobrigada pela visita!
Continuemos a desvendar mistérios, e principalmente, preconceitos. Adorei o seu comentário - muito lúcido!
Volte sempre!
Beijinhos,
Thaysa
Querida Thaysa, só hoje pude ler esse texto incrível. Você realmente tem uma enorme sensibilidade para com a dor do outro e uma sensibilidade igualmente enorme para expressar essa dor. Sua palavra restabelece o equilíbrio e renova a esperança. Obrigada! Receba meu abraço bem apertado!!! Tati.
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