sábado, 6 de julho de 2013

A ponte de Van Gogh



O lugar não importa: pode ser o Japão, a Holanda, a campina inglesa. 

Mas é absolutamente preciso que seja domingo.


O azul do céu ecoa na esmeralda do rio

E o rio reflete docemente as margens de relva verde-laranja

Dir-se-ia que da mansão da esquerda voou o lençol virginal de miss

Para ser no céu sem mancha a única nuvem.

A calma é velha, de uma velhice sem pátina

As cores são simples, ingênuas

A estação é feliz: o guarda da ponte chegou a pintar

De listas vermelhas o teto de sua casinhola.

E, meu Deus, se não fossem esses diabinhos de pinheiros a fazer caretas

E a pressa com que o homem da charrete vai:

- A pressa de quem atravessou um vago perigo

Tudo estivesse perfeito, e não me viesse esse medo tolo de a pequena ponte levadiça

Desabe e se molhe o vestido preto de Cristina Georgina Rosseti

Que vai de umbrela especialmente para ouvir a prédica do novo pastor da vila.


(Vinicius de Moraes)

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