Tenho ensaiado muito pra escrever este texto. Quase todos os dias eu rememoro o dia em que estive na casa da minha tia e ainda não consegui falar com ela sobre o quão difícil foi isso pra mim.
Tentei me arrumar. Mostrar aparência normal. Mas por dentro tudo doía e sangrava. Há muitos meses eu não via ninguém da minha família.
Algumas mensagens me feriram há tempos atrás. As cobranças eram demais pra mim e eu não soube lidar com tudo isso.
Tenho feito tudo o que está ao meu alcance. A ansiedade veio nesse combo de incertezas e medos. As crises me ferem muito e eu só desejo me isolar. Eu não tenho vontade de estar com ninguém. Não quero responder e ver ninguém.
Naquele último sábado se não fosse o acolhimento da Júlia, as palavras dela sempre tão sábias, não saberia sorrir e chorar. Não saberia aceitar que a vida continua e eu ainda tenho família.
A Júlia me disse sobre “escolhas” e eu ainda tento digerir cada palavra, cada lágrima que consegui deixar rolar quando naquele instante me desarmei.
Nunca imaginei passar pelo que estou passando. Ainda acho a vida muito injusta e nada faz sentido. Lembro da minha infância, da vovó doente, dos curativos que ela precisava, da dor que ela sentia e das madrugadas que eu ficava acordada indo chamar minha mãe pra acolhê-la.
Depois tive a rubéola. A família tinha medo de pegar a doença e eu fiquei muito ressentida com isso. Não via ninguém. Fiquei meses sofrendo sem saber bem o que era, com suspeita de lúpus. Minha mãe, que já tinha passado por tanta dor desde criança, passou por mais essa comigo.
Em mim ainda vive muita mágoa. Sinto coisas que não sei expressar nem mesmo com palavras. Queria ter o dom do esquecimento e conseguir destruir uma série de memórias.
Tenho medo de não conseguir me libertar. Tenho medo de não conseguir aceitar a nova realidade da minha vida. Ainda dói a memória de não conseguir chegar e ser só a Thatha.
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