Ninguém é igual a ninguém.
Todo o ser humano é um estranho ímpar.
(Carlos Drummond de Andrade)
Todo o ser humano é um estranho ímpar.
(Carlos Drummond de Andrade)
Mar Adentro – logo na primeira cena – coloca o espectador no lugar do protagonista. Diante de uma janela voamos em busca de sonhos e desejos de liberdade. A imagem é a partir do olhar de Ramón Sampedro e pelo olhar do espectador – nos colocando no lugar dele e de seu observador. A todo momento estamos lidando com o dentro e o fora, a vida e a morte, os movimentos e a paralisia que vão nos envolvendo e nos sensibilizando, além de nos colocar em contato com a temática da eutanásia – assunto tão polêmico. Sampedro coloca em cheque a regulação da vida e da morte pelo Estado e pela Igreja e acusa a hipocrisia do Estado laico diante da moral religiosa.
O polêmico debate com a igreja
sobre a eutanásia aparece na figura de um padre, que é tetraplégico também.
Numa visita a Sampedro a conversa deles é mediada por um seminarista – que com
uma expressão confusa parece estar prestes a entrar numa crise existencial e
religiosa. Num dado momento Ramón e o padre iniciam uma comunicação aos berros
devido a impossibilidade de se encontrarem por conta da estreita escada
existente na casa de Ramón. De um lado fala-se que a Igreja Católica não tem
moral para falar de respeito à vida após a Inquisição, e do outro, fala-se
sobre a importância de manter a vida.
Em meio a diversas discussões aparece a advogada Julia –
oposição direta ao padre – que pretende cuidar do caso de Sampedro – portadora
de uma doença degenerativa hereditária –, a advogada aparece como um canal
entre Sampedro de agora e de antes do acidente. Em conjunto eles escrevem um
livro, partilham sentimentos, afetos e desejos. Após anos e anos impossibilitado
do contato físico Ramón encontra Rosa, “alguém que realmente o ama e o ajuda a
morrer”. Ramón deixa um testamento concluindo o argumento da vida como obrigação,
e aliando a ela um debate que sinaliza as tensões e as questões de poder que
permeiam a vida e a morte: “negar la
propiedad privada de nuestro propio ser es la más grande de las mentiras
culturales. Para una cultura que sacraliza la propiedad privada de las cosas –
entre ellas la tierra y el agua – es una aberración negar la propiedad más
privada de todas, nuestra Patria y Reino personal. Nuestro cuerpo, vida y
conciencia. Nuestro Universo".
É
óbvio que após assistirmos o filme Mar
Adentro somos inclinados a pensar o que faríamos no lugar de Ramón Sampedro
ou de seus familiares? Independente das diversas opiniões sobre a eutanásia, percebamos a importância de viver a vida com mais respeito ao ser humano.
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