segunda-feira, 9 de julho de 2012

Mar Adentro


Ninguém é igual a ninguém. 
Todo o ser humano é um estranho ímpar.
     (Carlos Drummond de Andrade)    
  
         Mar Adentro
– logo na primeira cena – coloca o espectador no lugar do protagonista. Diante de uma janela voamos em busca de sonhos e desejos de liberdade. A imagem é a partir do olhar de Ramón Sampedro e pelo olhar do espectador – nos colocando no lugar dele e de seu observador. A todo momento estamos lidando com o dentro e o fora, a vida e a morte, os movimentos e a paralisia que vão nos envolvendo e nos sensibilizando, além de nos colocar em contato com a temática da eutanásia – assunto tão polêmico. Sampedro coloca em cheque a regulação da vida e da morte pelo Estado e pela Igreja e acusa a hipocrisia do Estado laico diante da moral religiosa.
       O polêmico debate com a igreja sobre a eutanásia aparece na figura de um padre, que é tetraplégico também. Numa visita a Sampedro a conversa deles é mediada por um seminarista – que com uma expressão confusa parece estar prestes a entrar numa crise existencial e religiosa. Num dado momento Ramón e o padre iniciam uma comunicação aos berros devido a impossibilidade de se encontrarem por conta da estreita escada existente na casa de Ramón. De um lado fala-se que a Igreja Católica não tem moral para falar de respeito à vida após a Inquisição, e do outro, fala-se sobre a importância de manter a vida.  
         Em meio a diversas discussões aparece a advogada Julia – oposição direta ao padre – que pretende cuidar do caso de Sampedro – portadora de uma doença degenerativa hereditária –, a advogada aparece como um canal entre Sampedro de agora e de antes do acidente. Em conjunto eles escrevem um livro, partilham sentimentos, afetos e desejos. Após anos e anos impossibilitado do contato físico Ramón encontra Rosa, “alguém que realmente o ama e o ajuda a morrer”. Ramón deixa um testamento concluindo o argumento da vida como obrigação, e aliando a ela um debate que sinaliza as tensões e as questões de poder que permeiam a vida e a morte: “negar la propiedad privada de nuestro propio ser es la más grande de las mentiras culturales. Para una cultura que sacraliza la propiedad privada de las cosas – entre ellas la tierra y el agua – es una aberración negar la propiedad más privada de todas, nuestra Patria y Reino personal. Nuestro cuerpo, vida y conciencia. Nuestro Universo".
       É óbvio que após assistirmos o filme Mar Adentro somos inclinados a pensar o que faríamos no lugar de Ramón Sampedro ou de seus familiares? Independente das diversas opiniões sobre a eutanásia, percebamos a importância de viver a vida com mais respeito ao ser humano.

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