sexta-feira, 29 de março de 2013

“A Nova Medicina” - João Lobo Antunes

"Quanto mais vulnerável mais humano"
 
 
         Está semana tive a oportunidade de ler um ensaio de João Lobo Antunes intitulado "A Nova Medicina". E este é um assunto que tem me interessado muitíssimo nesses últimos tempos.
        O ensaio publicado em forma de livro inicia-se com uma introdução que se refere as exigências crescentes “de uma população cada vez mais informada sobre o poder da arte médica". Já nos é perceptível alguns elementos desse "empoderamento" iniciando nossa reflexão quando observamos os termos que atualmente encontramos em consultórios no quais chama-se o usuário do serviço de "cliente" ou "consumidor". Lobo Antunes nos aponta algumas reflexões interessantes a serem analisadas: de um lado, a população com mais acesso a informação, e de outro, a população mais informada – o que definitivamente não é a mesma coisa! Afinal, é necessário determinados tipos de conhecimento para lidar com tal informação.
         Hoje em dia com o acesso fácil a internet, as pessoas se conectam com um número imenso de informações que tratam de tudo - desde como lavar as mãos até os estudos mais complexos das áreas específicas. Acontece que muitas vezes nós achamos que sabemos de tudo, mas na verdade precisaríamos de um conhecimento prévio ou experiencial muito maior para realmente entender do assunto. Não estou aqui defendendo que "nós não devemos pesquisar determinados assuntos na internet". Não! Acho que temos uma quantidade enorme de informações bastante úteis na web. Mas, pensemos numa situação específica: uma consulta médica. Você vai até o médico e ele dá um diagnóstico: - "É a doença X". Você chega em casa e "joga" no Google. Pronto! Já sei do que eu tenho e como posso me cuidar. É assim mesmo?
         Será que tudo o que você leu é verdade? Será que tudo o que está lá é o que realmente você tem? Será que você compreendeu tudo o que o texto disse? João Lobo Antunes irá nos propor um diálogo mais frutuoso com o médico. Conversar. Dialogar. Perguntar. Questionar. Já está na hora de perdemos o medo do Doutor, não é? Num outro texto - aqui mesmo no blog - já falei um pouco dessa fala hierarquizada (médico-paciente) e acho que nunca é demais repetir isso. É necessário que se crie um diálogo, é preciso que médico e paciente sejam aliados. Lidar com a incerteza não é fácil, mas se conseguirmos estabelecer uma relação mais "humanizada" entre ambas as partes tudo poderá se tornar menos angustiante.
         Um outro aspecto que me chamou muito a atenção neste ensaio foi o fato de João Lobo Antunes ter citado a evolução da "Medicina Narrativa" - uma área pouco estudada e de grande complexidade e relevância. Mais uma vez tocamos num ponto fulcral: a importância de acompanhar a narrativa do paciente; no olhar humano sobre a vulnerabilidade do Outro.
         Este é um excelente ensaio que nos mostra a necessidade de estabelecer um diálogo clínico de maneira horizontal, entre médico e paciente. "Acompanhando a narrativa da doença compreendemos a urgência em ver para lá das aparências e das máscaras dos sintomas."
 
"A virtude da compaixão nasce quando falamos ao Outro com a voz com que falamos a nós próprios. Para contar e ouvir."
 

sábado, 23 de março de 2013

Intocáveis (França - 2011)


               Assisti o filme "Intocáveis" já tem um tempo e gostaria muito de ter escrito algo sobre ele antes. Mas os dias foram passando, foram tantos afazeres que só agora - nesta tarde chuvosa -, eu pude parar para redigir esse breve texto.
                Achei esse filme incrível! Fiquei impressionada em ver um tema tão delicado sendo tratado de forma tão singular. Conta-se a história de um tetraplégico preso em seu próprio corpo. Phillipe é um milionário que procura um assistente de enfermagem de tempo integral para cuidar dele. Os entrevistados são muitos - e muitos dispensados.  De repente surge um rapaz "politicamente incorreto" que chama a atenção e acaba sendo escolhido. Por algum motivo, o milionário tetraplégico resolve contratar Driss - um jovem negro da periferia da França sem experiência no ofício e com antecedentes criminais que apenas desejava receber o salário desemprego. É à partir daí a relação dos dois começa.
                Driss tem um diferencial. Ele não tem pena da condição de Philipe e é isso que chama atenção do aristocrata francês. Vivendo em mundos tão distintos eles criam um laço que se fortalece a cada dia. Ao contrário dos deficientes representados no cinema como nos fantásticos "Mar Adentro" e "O Escafandro e a Borboleta", que corroboram o sentimento de pena que outras pessoas sem deficiência têm por elas, "Intocáveis" não segue por um viés trágico. O filme tem uma abordagem bastante divertida que encanta e sensibiliza a todos. Em determinados momentos Philipe esquece-se da sua condição de tetraplégico e vive plenas aventuras ao lado de seu amigo Driss.  A mescla de humor e drama formam uma combinação sui generis.
               Um filme obrigatório! 



quinta-feira, 21 de março de 2013

O Retorno do Jovem Príncipe


              Alejandro Guillermo Roemmers nasceu na capital argentina, Buenos Aires, em 1958, e sua trajetória literária teve início ainda na infância. Este é o autor de "O Retorno do Jovem Príncipe". Devo aqui dizer que conheci este lindo livro através de uma querida amiga - Jana - que me presentiou pelo meu aniversário. Também devo dizer que foi um dos presentes mais surpreendentes e significantes. Afinal, ele atravessou um oceano inteiro pra me encontrar...
               Roemmers retoma a história do Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry e o flagra novamente na Terra, mas desta vez em plena adolescência. Um viajante solitário na Patagônia, já em idade avançada, depara-se com o personagem desmaiado e continua sua viagem na companhia do novo amigo - que depois irá acordar e questionar muito! Num primeiro momento fica difícil reconhecê-lo, mas depois de algumas conversas é impossível não concluir que ele é aquele príncipe que voltou para uma nova visita em nosso planeta.  
                   Enquanto o tempo passa e a estrada não tem fim, os companheiros seguem um caminho da ingenuidade até o mais alto estágio das reflexões acerca da existência humana. Juntos, eles discutem sobre os terríveis confrontos bélicos que atingem a Terra, as crises de natureza econômica, a miséria e o excessivo materialismo perceptível no consumismo desenfreado. O Príncipe tenta compreender porque, diante de problemas cruciais, o Homem não busca outras trajetórias, pois sempre há uma escolha. E também procura entender a razão da Humanidade não se voltar para outra dimensão na busca de novas direções a seguir.
                  Como sabemos o autor teve inspiração no livro cultivado em sua infância, publicado no auge da Segunda Guerra Mundial, em 1943, para criar sua própria obra. Em sua narrativa encontramos um mesmo ar poético, um ponto de vista igualmente espiritualizado e humano sobre a vida, o Planeta e a moral essencial que rege a Humanidade. Roemmers consegue trazer de volta a personalidade aguda do protagonista eterno de "O Pequeno Príncipe" resultando numa narrativa que traz em si muito amor e fortes emoções que despontam do âmago do ser. Recomendo muitíssimo a leitura!!! 
                 
                 E como bem disse nosso querido escritor - também argentino - Jorge Luis Borges: "creio que uma forma de felicidade é a leitura."