"Quanto
mais vulnerável mais humano"
Está semana tive a oportunidade de ler
um ensaio de João Lobo Antunes intitulado "A Nova Medicina". E este é
um assunto que tem me interessado muitíssimo nesses últimos tempos.
O ensaio publicado em forma de livro
inicia-se com uma introdução que se refere as exigências crescentes “de uma
população cada vez mais informada sobre o poder
da arte médica". Já nos é perceptível alguns elementos desse
"empoderamento" iniciando nossa reflexão quando observamos os termos
que atualmente encontramos em consultórios no quais chama-se o usuário do
serviço de "cliente" ou "consumidor". Lobo Antunes nos
aponta algumas reflexões interessantes a serem analisadas: de um lado, a
população com mais acesso a informação, e de outro, a população mais informada
– o que definitivamente não é a mesma coisa! Afinal, é necessário determinados
tipos de conhecimento para lidar com tal informação.
Hoje
em dia com o acesso fácil a internet, as pessoas se conectam com um número
imenso de informações que tratam de tudo - desde como lavar as mãos até os
estudos mais complexos das áreas específicas. Acontece que muitas vezes nós
achamos que sabemos de tudo, mas na
verdade precisaríamos de um conhecimento prévio ou experiencial muito maior
para realmente entender do assunto.
Não estou aqui defendendo que "nós não devemos pesquisar determinados
assuntos na internet". Não! Acho que temos uma quantidade enorme de
informações bastante úteis na web. Mas, pensemos numa situação específica: uma
consulta médica. Você vai até o médico e ele dá um diagnóstico: - "É a
doença X". Você chega em casa e "joga" no Google. Pronto! Já sei
do que eu tenho e como posso me cuidar. É assim mesmo?
Será que tudo o que você leu é verdade?
Será que tudo o que está lá é o que realmente você tem? Será que você
compreendeu tudo o que o texto disse? João Lobo Antunes irá nos propor um
diálogo mais frutuoso com o médico. Conversar. Dialogar. Perguntar. Questionar.
Já está na hora de perdemos o medo do Doutor, não é? Num outro texto - aqui
mesmo no blog - já falei um pouco dessa fala hierarquizada (médico-paciente) e
acho que nunca é demais repetir isso. É necessário que se crie um diálogo, é
preciso que médico e paciente sejam aliados. Lidar com a incerteza não é fácil,
mas se conseguirmos estabelecer uma relação mais "humanizada" entre
ambas as partes tudo poderá se tornar menos angustiante.
Um outro aspecto que me chamou muito a
atenção neste ensaio foi o fato de João Lobo Antunes ter citado a evolução da
"Medicina Narrativa" - uma área pouco estudada e de grande
complexidade e relevância. Mais uma vez tocamos num ponto fulcral: a
importância de acompanhar a narrativa do paciente; no olhar humano sobre a
vulnerabilidade do Outro.
Este é um excelente ensaio que nos
mostra a necessidade de estabelecer um diálogo clínico de maneira horizontal,
entre médico e paciente. "Acompanhando a narrativa da doença
compreendemos a urgência em ver para lá das aparências e das máscaras dos
sintomas."
"A
virtude da compaixão nasce quando falamos ao Outro com a voz com que falamos a
nós próprios. Para contar e ouvir."
Gostei muito de sua introdução Thaysa e, para o entendimento da relação médico-paciente nos dias de hoje, o que é um tanto complicado,este livro é quase que obrigatório!;-)Acho que estou na fase do do questionar e dialogar! Beijinhos
ResponderExcluirOlá Anderson!
ExcluirFico feliz que tenha gostado do post.
Sim, este me parece ser um livro bastante esclarecedor! E por se tratar desse tema ainda pouco estudado - pelo menos em nosso país - traz reflexões interessantíssimas.
Agora, outro dado importante é a ação, se você está nessa fase: aja ;)
Beijinhos
Oi Thaysa! Muito interessante a sua descrição e o seu ponto de vista sobre este livro.
ResponderExcluirO diagnóstico e a impressão superficial sobre diferentes temáticas é o erro, que infelizmente, está se tornando cada vez mais corriqueiro em nossa sociedade. A falta de questionamento,o conformismo e a falta de diálogo são males crescentes em uma sociedade totalmente voltada ao prazer individual, não se importando com o coletivo.
Como você comparou na sua descrição, acho que a relação entre "médico" e paciente (que na concepção de Paulo Freire, seria de paciente para paciente) retrata muito bem a precariedade de vínculo do Homo Sapiens com outros entes e a necessidade de evolução comportamental dos mesmos.
Beijos ;)
Lucas