Ando cada
vez mais interessada nos estudos pragmáticos sobre a linguagem, que compreende
a fala como ação. Nas últimas semanas
tive oportunidade de ler uma excelente obra que se chama A arte de ler ou como resistir à adversidade. O livro é de uma
antropóloga francesa, Michèle Petit, que estuda o uso da leitura em
"contextos de crise". Parece-me que a leitura também é uma forma de
ação e por isso relaciona-se a essa perspectiva de estudo que eu me interesso
cada vez mais.
Não
poderia deixar de recomendar essa leitura aqui no blog, e por isso, resolvi
fazer um resuminho da obra pra ver se vocês se animam :)
Durante
toda a obra a autora tece reflexões a respeito da atuação da leitura nesses
"contextos de crise" que são as situações de violência, guerra, recessões
econômicas e outras. Um ponto que me
chamou atenção foi o fato de que, segundo a autora, a leitura contribuiria para
a reconstrução de si mesmo, e consequentemente, promoveria modificações
psíquicas saudáveis ao leitor.
Mais
adiante a autora citará os "mediadores de leitura". Estes seriam
profissionais empáticos que, com o auxílio da literatura, abririam um leque de
reflexões ao seu interlocutor. E estes tornar-se-iam agentes transformadores da
sua própria vida. Ou seja, através do exercício da leitura a interioridade do
ser humano é tocada, modificada e lhe é permitido recuperar um sentimento de
continuidade. Segundo as palavras da autora “para além desses contextos
dramáticos, a leitura como o jogo, é uma maneira de se reafirmar, dia após dia”
(p. 91). Petit irá recorrer a vários exemplos nos quais a narrativa em situação
adversa serviu para transformar a visão de mundo do interlocutor/leitor.
“Não importa o meio onde vivemos e a cultura
que nos viu nascer, precisamos de mediações, de representações, de figurações
simbólicas para sair do caos, seja ele exterior ou interior. O que está em nós
precisa primeiro procurar uma expressão exterior, e por vias indiretas, para
que possamos nos instalar em nós mesmos” (p. 115).
Se
considerarmos que nossas vidas são sempre tecidas por fragmentos, relatos,
narrativas, histórias cheias de aventura, conseguiremos perceber a importância
de se ter alguém que incentive a leitura, ou mesmo a prática da fala, o ato de
narrar. Talvez nós pudéssemos dizer que a prática do falar/ouvir/ler desenvolve
uma espécie de "trabalho terapêutico".
Michèle
Petit também tratará dos espaços coletivos de leitura e ressaltará a
importância da escolha de textos a serem utilizados nas dinâmicas. Segundo a
autora, essas experiências literárias seriam responsáveis pela construção de
uma sensibilidade - inerente ao ser
humano.
Muitas
outras questões são abordadas na obra. De qualquer forma, ficam aqui algumas delas
que, a meu ver, são fundamentais. Termino este singelo texto com uma citação da
própria autora, que sintetiza muito bem as ideias propostas por ela: “ler,
apropriar-se dos livros, é reencontrar o eco longínquo de uma voz amada na
infância, o apoio de sua presença sensível para atravessar a noite, enfrentar a
escuridão e a separação” (p. 65).