Sinto minha energia escoar pelo ralo, assim como as águas que caem do chuveiro, passa pelo corpo inteiro e vão embora. A alegria não habita mais em nós. O sorriso dela foi embora. Tudo se torna uma grande tensão, um tormento sem fim.
Dói não saber qual foi o gatilho que desencadeou toda essa situação. Dói estar ao lado de alguém que você não consegue reconhecer mais. Dói sentir que toda aquela fortaleza hoje depende tanto de nós.
Dói não conseguir ser a fortaleza que talvez ela precise. Tudo dói. Meu corpo dói. Meu coração dói. Meu peito parece sangrar. Minha garganta anda fechada. Sinto minhas mãos atadas.
Sinto todos nós adoecidos. Ao mesmo tempo, todos precisamos ser fortes para ajudá-la a sair desse poço que parece não minar mais água potável.
Em meio a todas estas questões a vida continua. As contas de casa continuam chegando, é preciso cozinhar, trabalhar e tomar conta dos afazeres. Todos os dias o despertador toca às 5h da manhã e eu ainda me pergunto como tenho conseguido sair da cama.
Às vezes fico me perguntando quando é que retomaremos a “normalidade”. Será que poderei comemorar meu aniversário? Será que no Natal ela estará linda e feliz? Será que irá desejar fazer aqueles vários pratos para a nossa ceia?
Quando chego em sua casa, abro a porta e dou uma olhada para ver como ela está. Desejo ver aquele brilho nos olhos, mas encontro apenas uma paisagem fosca.
Hoje ela me pediu pra fazer suas unhas. Fiz com muito amor e cuidado. Desejara que ela me desse uma bronca. Que ela dissesse que eu ando cortando demais o cabelo, que eu não tenho que fazer mais tatuagem, que eu precisava comer mais. Ela não diz nada. Ela só me olha. Eu só olho ela e não consigo dizer mais nada.
Eu te quero tanto de volta, mãe. Sinto falta do amor que só você sabe me dar.
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